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Resenha – Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore (com spoilers)

Harry Potter (ou o Wizarding World como a Warner tenta chamar e o público não compra) talvez seja uma dessas franquias incanceláveis. No momento ainda é difícil precisar se é possível um filme, produção ou livro que se passe nesse universo flope e dê um prejuízo real arrecadando menos do que o que custou originalmente. Mas dá pra afirmar com toda a convicção que se ainda não temos essa certeza não é por falta de tentativas tanto da Warner, quando da autora J. K. Rowling de trazer obras completamente medíocres.

O universo Harry Potter nunca foi a obra mais coesa do mundo. O método de desenvolvimento de roteiro de J.K e a técnica de fazer a trama só surgir quando o protagonista da história olha para ela depõe em muito contra a coesão. A questão é que, enquanto nos ativermos apenas aos 7 livros originais isso nunca será um problema. O problema mesmo começa a partir do momento em que a autora passou a abusar dos retcons (continuidade retroativa que é quando o autor altera fatos que já era estabelecidos na trama) e fica bem claro que isso começou quando ela resolveu apelar para um queerbating afirmando que Dumbledore sempre foi um personagem gay. O abuso dos retcons está totalmente entrelaçado a como Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore e todos o Wizarding World se tornou um desastre.

Mas vamos por partes. Vale primeiro lembrar que no longa anterior, Os Crimes de Grindelwald, o vilão que dá nome a película começou a mostrar suas garras armando um grande espetáculo para seus seguidores em Paris, seguido de um grande ataque a cidade. Revela-se no final, também, que Dumbledore e Grindelwald não podem lutar entre si devido a um pacto de sague que fizeram há muito tempo, além da sub trama do Credence (personagem de Ezra Miller) que é revelado como um irmão perdido do professor de Hogwarts.

Os Segredos de Dumbledore começa basicamente desse ponto e tenta guiar o espectador a entender a trama em três cenas:

1 – Dumbledore e Grindelwald tem em um diálogo que tem como objetivo principal explicar exatamente as regras do pacto de sangue e deixar bem claro que Dumbledore já foi muito apaixonado pelo vilão.

2 – Somos apresentados ao animal fantástico da vez, o Qilin: uma espécie de animal quadrúpede que mais a frente é explicado, tem o poder de enxergar a pureza na alma das pessoas e só faz uma reverência àqueles que são realmente puros. Newt está ajudando uma Qilin a dar luz quando é atacado por Creedence, que mata a mãe e leva o filhote com ele. Entretanto, nasce ainda um segundo filhote e esse permanece sob os cuidados de Newt.

3 – Reúne-se e apresenta-se a equipe Dumbledore, que durante o segundo ato do filme, terá a missão de tentar frustrar os planos de Grindelwald de participar da eleição para o cargo de Chefe Supremo da Confederação Internacional dos Bruxos. Dumbledore separou um presente para cada um deles e, tal qual uma trama de assalto, cada um desses itens ganha importante em dado momento.

Por causa dessas três cenas acaba ficando claro que Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore é aquele filme em que a roteirista tinha bem claro em sua mente como se iniciaria e terminaria, mas não fazia a menor ideia do que deveria acontecer no meio. As cenas 1 e 2 são basicamente o cerne do filme, mas o que se desenvolve ao longo da primeira hora são as consequências da reunião da equipe de Dumbledore. Só que, quando essa parte da trama se conclui, todos os itens apresentados são utilizados e o plano não dá certo, se esquece completamente que esse segundo ato existiu. Há 40 minutos de história que não fazem diferença nenhuma para o final e se fossem sumariamente cortados não fariam falta.

No meio disso, ainda sem arruma tempo para o desenvolvimento da trama de Credence. J. K. Rowling inova e apresenta agora o retcon do retcon. Apresentá-lo em Crimes de Grindelwald como um irmão perdido de Dumbledore já era um grande furo dentro de todo o universo Harry Potter. Em Os Segredos de Dumbledore, o papel de Credence é novamente reiventado: num diálogo digno da revelação do passado de Rey em Episódio 9, falando quase um “veja bem, é isso, mas não é exatamente isso”, Dumbledore revela a Newt que Credence na verdade é um filho perdido de Aberfoth (seu irmão), que nasceu quando eles ainda eram alunos de Hogwarts. E isso ocorre meia hora depois de ter entrado em um combate completamente sem sentido contra o sobrinho no meio da cidade. Credence, aliás não tem exatamente um papel na trama: ele fica para lá e para cá em missões determinadas por Grindelwald e está lá para fazer o filme ter cenas de ação e magia (que aliás são bem poucas).

No terço final do filme, quando os personagens entendem que nada deu certo e que tudo feito até aquele momento fora completamente inútil, todos se reúnem para a grande cena final no cenário localizado no Butão, cenas essas que originalmente seriam no Brasil. As eleições para o cargo de Chefe Suprema da Confederação Internacional dos Bruxos ocorrerão nesse cenário mágico e finalmente lembramos do Qilin apresentado no início da trama. O grande plano de Grindelwald é criar uma versão zumbi controlável do Qilin sequestrado para forçá-lo a fazer uma reverência a ele, fazendo parecer que o animal o escolhera como uma pessoa pura e, consequentemente, perfeita para ser Chefe Supremo da Magia. O novo plano da equipe Dumbledore é usar o outro Qilin que Newt salvou para tentar impedir isso.

Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore claramente poderia ter girado apenas em torno deste terceiro ato e ignorado todas as outras tramas, que no final acabaram não fazendo diferença nenhuma. Se dá para criticar algo nesse filme, sem dúvidas é o roteiro, mais perdido do que nunca.

As crítica não param por aí não: se o roteiro não tem pé nem cabeça, a direção de David Yates está no mesmo patamar. O filme apresenta talvez as piores cenas de ação já feitas em toda a série. Além de serem poucas, completamente sem peso para demonstrar que dois bruxos estão se enfrentando até a morte.

A produção por trás dos atores também foi péssima. Importante citar aqui que tanto Katherine Waterston, quanto Claudia Kim (respectivamente Tina Goldstein e Nagini) que tiveram papeis importantes no filme anterior e foram totalmente esquecidas. Katherine criticou publicamente falas da J. K. Rowling e acabou sendo relegada a aparecer no último minuto do filme. Claudia Kim nem isso, nem se sabe que fim levou o personagem. Houve também uma grande destaque a participação de Maria Fernanda Cândido como Vicência Santos que é a candidata que faz frente a Grindelwald nas eleições do Conselho Bruxo. Mas a atriz tem uma única fala no meio do filme e participa do terceiro ato sem abrir a boca uma única vez. Ela é candidata a eleição mais importante do mundo bruxo, mas não deram a ela nem o direito a um discurso.

Únicas coisas que são possíveis de elogiar são as atuações de Jude Law e Mads Mikkelsen. Jude já havia mostrado no filme anterior que conseguia carregar o papel de Dumbledore sem grandes problemas. Mads substitui muito bem Johnny Depp apresentando um Grindelwald mais frio e calculista e sem grandes overactings (coisa que deixou a versão de Depp extremamente caricata no filme anterior).

No final o saldo é totalmente negativo. O filme é arrastado, não tem um foco sobre o que deseja contar acabando por se apresentar como uma colcha de retalhos ainda pior que o longa anterior.

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