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Zoar ricos está na moda e Triângulo da Tristeza faz isso muito bem. O problema mesmo é terminar a história.
Triângulo da Tristeza vem como a grande sátira da categoria Melhor Filme do Oscar 2023. Com um elenco afinado e boa motivações (ou falta delas) o filme consegue somar clichês e inovações. Mas vale um estatueta?
Num iate de luxo figuras pitorescas (desde um bilionário russo anti comunista, até um casal de modelos em crise emocional) vão se reunir e vivenciar situações reais e situações absurdas. Não há exatamente um começo, não há exatamente um fim. O que importa é perceber o quão vazias são essas pessoas, enquanto você também testemunha a vida das pessoas que trabalham para elas.
Triângulo da Tristeza é aquele filme que não tem exatamente um protagonista. O casal inicial Carl (Harris Dickinson) e Yaya (Charlbi Dean) tomam a maior parte do tempo de tela, mas é difícil chamá-los de principais. O primeiro ato aliás é basicamente apenas com eles, passando pelo candidatura de Carl a uma vaga como modelo e por um jantar com ambos em que passamos 20 minutos ouvindo uma discussão completamente sem propósito sobrem quem deve pagar a conta.
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Quando finalmente chegamos ao cruzeiro e somos apresentados às figuras mais malucas o possível, como um casal de pacatos senhores ingleses que são donos de granadas ou um ricaço russo que faz questão de deixar claro que é anti comunista a todo momento, o roteiro vai tomando forma e mostrando que o foco aqui é satirizar grande figuras de alta classe. O roteiro é até um tanto didático em apresentar cada uma delas, mas no final não há muito o que esperar deles.
A ideia não é novidade como é possível ver em produções como White Lótus e O menu, mas a originalidade de Triângulo da Tristeza está, além do roteiro, na cinematografia. Ao longo do segundo ato no iate as situações mais simples possíveis são mescladas a situações absurdas da forma natural. Isso eu credito principalmente à fotografia e aos ângulos que parecem quase um documentário. Aqueles personagens são completamente perdidos e parece que simplesmente a câmera foi ligada e os gravou. Mesmo nos momentos mais surtados a sensação de realidade permanece.
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Toda a equipe que trabalha no iate também é um show a parte. Eles são basicamente o testemunho do espectador: as pessoas normais que estão a mercê daquele bandos de malucos. Eles trazem a sobriedade à trama e a lembrança de que, sim, você não está maluco e aquele milionários são basicamente os vilões da história.
O filme derrapa um pouco no final. Quando o iate naufraga (não é spoiler, está no trailer) começa a parte mais surreal de fato da história e o filme poderia ter brilhado. Mas o final mesmo é um tanto covarde em não dar o desfecho ao espectador. A partir dos acontecimentos você mesmo decide qual o seu final, mas não há subsídio para se ter certeza do que aconteceu.
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Acima de tudo, Triângulo da Tristeza mostra claramente que dinheiro não necessariamente garante bom senso ou bom gosto. Vale uma estatueta? Talvez, mas vai precisar brigar com outros que tem o roteiro bem melhor solucionados.
Triângulo da Tristeza está disponível nos cinemas e no Amazon Prime Video. O Longa foi indicado a a 3 Oscars incluindo Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Roteiro original.
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