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Talvez a franquia mais antiga de super heróis, começada lá em 89 (isso se contarmos apenas os cinemas, pois Adam West já brilhava na TV muito antes disso) com o longa de Tim Burton, o Homem Morcego volta mais uma vez aos cinemas prometendo algo novo. Mas como exatamente uma franquia de mais de 30 anos sobre um herói que já existe a mais de 80 poderia se renovar? Matt Reeves responde a altura com The Batman.

Não há como negar que o Batman já passou pelas mãos mais variadas no cinema ao longo de todos esses anos. Começado numa origem até bem gótica, mas um tanto caricata; passando pela versão totalmente colorida e galhofeira; por um herói mais realista; uma tentativa de reproduzir o tanque de guerra humano dos vídeo games para as telas de cinema; e até por numa versão Lego. O que exatamente ainda faltava vermos? Sim, pessoal, faltava voltarmos às origens do herói e vermos um detetive.

O filme e o roteiro não tentam fingir que essa não é uma história de super heróis, mas Matt Reeves traz uma direção com uma boa pegada de neo noir. Não estranhe se você sentir semelhanças com filmes como Seven ou Zodíaco (clássicos de investigação) porque parece que a ideia era essa mesma. A dinâmica Batman, Gordon e Charada traz muitas semelhanças com David Mills, William Somerset e John Doe.

O Homem Morcego de Robert Pattinson (de O Farol) aqui é apresentado com um vigilante ainda iniciante. No ano 2 de sua jornada, Bruce Wayne ainda é totalmente atormentado pela morte dos pais e, de dia, segue uma vida reclusa. Com poucas aparições públicas e zero importância a fortuna e legado de sua família, Bruce está obcecado por sua jornada como uma sombra da noite que traz medo ao crime. E, mesmo assim, em sua fala inicial, ele admite que não está funcionado, com a criminalidade e a corrupção imperando cada vez mais em Gotham.

Jeffrey Wright (de Westworld e 007 – Sem tempo para morrer) apresenta Gordon como um policial já mais experiente, mas ainda não comissário. Ele é quem concede acesso ao Batman a cenas de crimes (a despeitos dos outros policiais que não confiam no homem morcego) e, aparentemente, é dele a ideia do bat sinal (que nessa versão não fica na delegacia, mas sim num prédio abandonado. A dinâmica de trabalho dos dois funcionou muito bem como um filme de investigação clássico da dupla composta por um veterano e um novato (ares meio Máquina Mortífera). Em alguns momentos eles agem inclusive como good cop e bad cop.

E finalmente chegamos ao Charada de Paul Dano (de 12 anos de Escravidão e Os Suspeitos). Não vemos nele nada muito surtado no estilo da contraparte interpretada por Jim Carrey em Batman Eternamente. Até a cor verde, muito ligada ao personagem, é praticamente esquecida aqui. Na essência, o personagem soou muito como um incel sociopata (redundância?). Seu assassinatos são bem planejados, ligados todos por charadas endereçadas principalmente ao Batman (aliás parabéns à galera da tradução que conseguiu localizar as charadas para o português) levando você a duvidar exatamente sobre a intenções do vilão em vários momentos. Ele parece ser um mestre dos segredos e ter controle de tudo, mas em algumas vezes perde completamente o controle, coisa que faz você sentir que os protagonistas estão realmente em perigo.

O elenco de suporte não fica para trás. Podemos destacar principalmente Zoe Kravitz (Selina Kyle/Mulher Gato), Colin Farell (Pinguim), John Turturro (Camine Falconi) e Andi Serkis (Alfred). Todos com ótimas atuações e cada um deles com sua trama bem desenvolvida. Se tem algo que The Batman conseguiu fazer foi apresentar bem todos os personagens, manter a linha de pensamento do roteiro e não ficar chato. Destaque, aliás, para a química do Batman com a Mulher Gato. Zoe e Robert entregaram algumas das cenas mais perfeitas já feitas com a dupla.

A trama tem grande foco nesses sete personagens principalmente entrelaçando a corrupção de Gothan (que remonta aos tempos da infância de Bruce e à morte de seus pais) com os mistérios e assassinatos do Charada. O fio de investigação comanda o roteiro e através dele somos levados a várias reviravoltas surpreendentes e ótimas cenas de ação (a apresentação do bat móvel é simplesmente perfeita). Fora isso, Matt Reeves conseguiu também atualizar a trama de um super herói de 80 anos discutindo diversas problemáticas sociais como concentração de renda, radicalização, liberação de armas e como o próprio Batman é parte do problema de Gotham. Tudo isso num filme de quase 3 horas, que garantimos, não fica repetitivo.

É preciso também destacar a parte técnica da produção. Finalmente temos um filme do Batman que, apesar de usar a escuridão em sua fotografia, é possível enxergar durante as cenas. A escuridão serve ao roteiro e não está lá apenas para disfarçar efeitos visuais ruins (como tem acontecido bastante nos últimos filmes de heróis). Muito da ação foi produzido com efeitos práticos, então as explosões são bem reais. A trilha sonora do Michael Giacchino (que também esteve em, veja só, Homem Aranha: Sem Volta para Casa) é épica. Boa parte da emoção vem através dela.

No geral é um filme que surpreende por conseguir renovar um herói que já foi representado por 6 atores diferentes trazendo algo novo de onde parecia não ser possível inovar (vide os filmes do Ben Affleck). Se você puder, assista num cinema ou no lugar em que for possível ouvir o som da melhor forma possível. Vale muito a pena.

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victorogerio

The author victorogerio

Editor do Super Literário e Editor do Super Cast