Dá pra classificar Tár como uma biografia fake. Você pode até não acreditar, mas Lydia Tár não existe. E depois de ver o filme você vai continuar duvidando disso.
Tár marca a volta de Todd Field à direção depois de 16 anos e desenvolve roteiro sobre uma figura polêmica e cancelamento. Vale Óscar?
Lydia Tar é uma “maestro” (como ela mesma gosta de ser chamada) que atingiu o ápice. Ganhou o EGOT (quando uma mesma pessoa ganha um Emmy, um Grammy, um Oscar e um Tony Awards), se tornou titular da Filarmômica de Berlim e está no auge de sua carreira como musicista. O filme já se inicia com uma longa entrevista com Tár onde ela deixa claro que se considera intocável. Ela talvez fosse um personagem perfeito para estar no cruzeiro de Triângulo da Tristeza.
Tár estabelece discussões profundas sobre gênero, cultura de cancelamento e se dá para separar o autor da obra. O roteiro se desenvolve como um grande quebra cabeça, as vezes demorando para captura você. A primeira hora de filme se passa basicamente em três únicas e longa cenas. A abertura com a entrevista a maestro norteia boa parte do que vai acontecer nos atos seguintes. O início é bem lento, mas em dado momento a trama passa a ser frenética.
Lydia é quase uma vilã. Uma personagem que por se considerar o topo de uma categoria tornou-se cruel, intimidadora e ditatorial. Na primeira hora de filme o espectador captura alguns sinais dessa crueldade, como no momento em que ela chega a ameaçar uma criança que está praticando bullying com a sua filha ou em como ela trata seus alunos e os músicos com quem trabalhar em orquestra.
Todd Field trabalha o roteiro muito nos diálogos. É necessário prestar atenção em detalhes para entender coisas que acontecerão mais a frente. As cenas longas e o diálogos até muito técnicos sobre música compõem toda a aura de que você está perdendo algo e está de fato. Mas você só vai perceber isso no momento certo.
O grande problema começa a ocorrer quando a trama se direciona ao final. O filme que até aquele momento parece ser lento na medida certa para estabelecer detalhes sobre aquela pessoa cai em alguns clichês desnecessários de suspense. A tentativa de sátira talvez seja o maior ponto fraco do roteiro: quando acontece é óbvia. Fica parecendo quase que o diretor deu uma piscadela e apontou para onde o espectador deveria olhar.
O maior mérito de Tár talvez tenha sido fazer você acreditar na personagem. Ela não existe, mas é muito real e você provavelmente conhece alguém assim. É preciso também fazer um destaque à interpretação de Cate Blanchett. Nos momentos em que o roteiro falha, ela sem dúvidas carrega a trama e brilha!
Tár está disponível nos cinemas e foi indicado a 6 Óscars incluindo Melhor Filme, Melhor Atriz, Melhor Diretor e Melhor Roteiro