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[Maratona Oscar] – Resenha – Elvis

Biografias de músicos e bandas estão na moda em Hollywood. Depois de Bohemian Rhapsody e Rocketman, a próxima aposta foi a polêmica vida de Elvis Presley, no longa dirigido por Baz Luhrmann (de Moulin Rouge e O Grande Gatsby).

Elvis não tinha exatamente uma dificuldade muito grande na sua produção. A história real é boa e as músicas também. O conjunto da obra chegou ao Oscar, mas valeu?

Hollywood tem uma dificuldade muito grande em retratar figuras polêmicas. As recentes biografias de Freddie Mercury e Elton John mostram como sempre existe uma tendência a alterar fatos reais para tornar a história mais palatável e chapa branca ao público. Elvis não foi muito diferente. O personagem Elvis Presley sem dúvidas é um marco na história da música com boas histórias e ótimas músicas, mas o filme derrapa um pouco em abordar isso, evitando ao máximo a parte mais polêmica da vida do cantor.

O roteiro de Elvis sofre pela necessidade de fazer do filme um drama pessimista. À despeito de Elton John, que também teve uma vida de altos e baixos, mas Rocketman acaba sendo uma produção bem positiva e animada, a biografia de Elvis peca pelo pessimismo, abordando praticamente só o pior da vida do cantor.

O Tom piora ainda mais por ter o roteiro inteiro contado pela controversa figura de Tom Parker, que foi a vida inteira empresário do cantor e que através de contratos viciados conseguiu fazer da vida de Elvis um inferno. Tom Parker, sem dúvidas é o vilão da história e o roteiro deixa isso claro, mas é um pouco desconfortável ouvir toda a trama com a narração em off dele (aqui maravilhosamente bem interpretada por Tom Hanks). Não é o tipo de situação que você como espectador sentiria vontade de ouvir o vilão se explicando.

Ainda assim há alguns ótimos pontos na produção: a trilha sonora obviamente embalada pelos grandes sucessos de Elvis é impecável. Talvez até peque um pouco por não utilizar mais as músicas, masa aliada à voz de Austin Butler, o score ficou realmente espetacular. O próprio Austin é um ponto alto: sua interpretação, trejeitos e estilo ficaram perfeitos. A cena final que retrata o último show de Elvis em Las Vegas é impecável. Assistindo a comparação entre o filme e os registros é difícil até diferenciar qual de fato é o real.

No final a sensação é de que uma boa história foi contada, mas pelo ponto de vista da pior pessoa possível envolvida. Nos Oscar talvez valha uma estatueta para Austin Butler, mas Melhor Filme já é demais.

Elvis está disponível no HBO Max e nas plataformas de aluguel de filmes. O longa foi indicado a 8 Óscars incluindo Melhor Filme e Melhor Ator.

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[Maratona Oscar] – Resenha – Avatar: O Caminho da Água

13 anos depois, James Cameron tenta repetir o grande feito de Avatar e levar o espectadores novamente à Pandora. Mas alguns clichês bobos e a necessidade de deixar pontas soltas para as próximas 4 continuações atrapalham a viagem.

Avatar: O Caminho da Água tinha uma missão bem complicada: fazer o público se sentir novamente em outro planeta, sem ter o artifício da novidade que existia em 2009. A viagem até aconteceu, mas vale uma indicação ao Oscar de melhor filme?

Desde que Jake Sully se tornou um só com seu avatar de Pandora e auxiliou os Na’vi a vencerem a batalha contra os humanos, a vida no planeta seguia de forma pacata. Jake e Neytiri criam raízes com seu povo e desenvolvem uma família. Mas tudo parece estar a um ponto de ser perdido quando os terráqueos trazem novamente a guerra ao pacato povoado. E, além disso, Sully também terá que confrontar um inimigo do passado.

Não tem como falar de Avatar sem lembrar que lá em 2009 o filme cativou muito o público. Seu roteiro clássico do salvador branco que irá se mesclar ao povo nativo e será a esperança da vitória não ofuscou toda a beleza da produção, apesar da trama completamente batida e repetitiva. Toda cinematografia do primeiro filme encanta e hipnotiza, fazendo o espectador esquecer que já viu aquela mesma história alguma centenas de vezes em outros filmes. Então, dessa forma, 13 anos depois chegamos a O Caminho da Água com uma missão bem complicada de repetir a imersão do primeiro longa, apresentar personagens novos, um conflito novo, deixar pontas soltas para o grande projeto Avatar e ainda encantar o público sem ter o fator da novidade. Da pra dizer que James Cameron conseguiu? Bem… sim e não.

O Caminho da Água é muito competente em apresentar personagens novos. Toda a família de Neytiri e Sully surge na tela e encanta. Os personagens são realmente muito bons, em especial a jovem Kiri (Sigourney Weaver) que é filha da personagem feita pela mesma atriz no primeiro longa (Dra. Grace Augustine), mas não sabe exatamente como foi concebida já que sua mãe ficou em coma no final da trama. Kiri tem alguma ligação com Pandora e consegue utilizar alguns poderes especiais, mas nada que seja explicado aqui. Ficará para as continuções.

Quando surgem novamente os perigos trazidos pelos terráqueos, Jake Sully não pensa duas vezes antes de se exilar com o povo da água, os nativos de Pandora que moram próximos ao mar e tem alguma diferenças corporais aos Na’vy da floresta. Todo povo da água também é muito cativante, principalmente a líder deles, Ronal (Kate Winslet), que traz um novo (olha só o trocadilho com água) fôlego ao conflito entre família e deveres com as suas origens.

Até aí, tudo lindo. O grande problema começa quando você precisa de uma trama. Ela simplesmente não existe até o terço final do filme. A única motivação dos protagonista é a fuga da guerra. A família Sully corre por Pandora para buscar exílio com o povo da água simplesmente porque a guerra voltou e o antigo vilão da série, o general Miles Quaritch (Stephen Lang) está de volta, agora clonado num corpo de Na’vi, assim como Jake. Ora, se no primeiro filme, a família permaneceu e lutou contra até a morte, qual a diferença agora?

A resposta certa seria um temor que Jake tem por sua jovem família, mas isso é extremamente mal desenvolvido no roteiro. Vemos o personagem completamente abalado e receoso, mas nunca somos entregues de fato aos motivos. Passamos longas duas horas vendo a família treinar para se tornar digna de conviver com a tribo da água, ao mesmo tempo que vemos Quaritch entendendo seu novo corpo e dando início a uma caçado ao seu rival. Nada parece ter lógica ou levar qualquer direção que seja, até que finalmente o roteiro apresenta o grande nó da trama que envolve as baleias Pandorianas e o valor que elas tem tanto para os nativos quanto para os humanos.

A própria trama da clonagem de Quaritch é uma falha grotesca de roteiro. No primeiro filme se estabelece que Jake Sully foi integrado ao programa Avatar porque seu irmão, originalmente designado para a tarefa morreu e ele seria o mais próximo geneticamente para utilizar o corpo mestiço desenvolvido em Pandora. A chegada de Sully é um controle de danos para impedir que o projeto perca todo o investimento. E se conectar com o corpo tem consequências ao corpo humano original: a conexão era por tempo limitado, o corpo humano passava por uma exaustão mental, entre outras coisas. A união da alma de Sully com o corpo Avatar ao final do filme era algo único, até que de repente, a humanidade sabe clonar seus militares para corpos avatares que agora estão disponíveis aos montes. Chega a ser quase ofensivo a inteligência do espectador.

Simplesmente não existe como não comprar o primeiro e o segundo filme. O primeiro, apesar de clichê, tem um roteiro redondo, simples e bem desenvolvido, ao mesmo tempo que todo o visual leva o espectador ao fascínio. O segundo tem um roteiro cheio de clichês ruins (clone em 2022, sério?), repetitivo e maçante. Em certos momentos você esquece que algumas tramas e personagens existem, tamanho desorganização do argumento.

Ao longo de suas longuíssimas 3h e 12 min, Avatar: O Caminho da Água até cativa com o visual, mas esquece que, acima de tudo, um bom filme precisa contar uma boa história e trazer boas motivações aos personagens. Para um filme de Oscar, na minha opinião falhou bastante nisso.

Avatar: O Caminho da Água está disponível nos cinemas e deve entrar na grade do Disney + em abril. O longa foi indicado a 4 Óscars incluindo Melhor filme e Melhores efeitos visuais.

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[Maratona Oscar] – Resenha – Os Banshees de Inisherin

Tentando misturar drama, comédia e sátira Os Banshees de Inisherin acaba não atingido nenhum objetivo na prática.

Os Banshees de Inisherin traz uma história a primeira vista um tanto boba, mas demonstra como um situação simples escala para um ponto quase surreal e esconde diversas críticas a sociedade. Vale a indicação ao Oscar?

Na pequena e pacata ilha de Inisherin, no litoral Irlandês, num turbulento ano de 1923, dois amigos vão escalar um conflito de uma forma até então nunca vista. Pádraic (Colin Farrel) e Colm (Brendan Gleeson), amigos de longa data, começam a se desentender quando Colm resolve que não quer mais conversar com Pádraic de jeito nenhum, ainda que não exista exatamente um motivo para isso. Não ocorreu uma briga, nem desentendimento, ele apenas não quer mais ter contato com o, agora, ex-amigo.

É um pouco difícil de entender qual exatamente era a ideia de Martin McDonagh ao dirigir e roteirizar esse filme. A trama é desenvolvida fornecendo partes de drama com um conflito entre dois amigos e um confuso Pádraic que ultrapassa alguns limites para entender exatamente porque Colm não deseja tê-lo como amigo; comédia com como essa situação até bem simples escala de uma forma completamente surreal; e sátira, com uma Guerra Civil Irlandesa estourando a fundo, ao longe da pequena ilha onde se passa toda a trama.

Farell e Gleeson formam uma boa dupla de protagonistas fazendo quem assiste realmente acreditar em todas surrealidade do roteiro. Colm está tão motivado a se afastar de Padráic que em dado momento promete cortar seus dedos, caso o ex amigo fale com ele novamente. A promessa é até mais agressiva do que parece, pois Colm é violinista e explica o fim da amizade por considerá-la um atraso que o está impedindo de ser um compositor melhor. É possível se questionar se a situação toda envolve uma depressão do personagem ou simplesmente uma sensação completa de falta de propósito.

O filme com poucos cenários e personagens consegue cativar alguma curiosidade do espectador sobre como exatamente tudo se findará, se existe algum grande segredo por trás da confusão e se a promessa de Colm realmente será cumprida. Mas a graça acaba aí. Claramente, o roteiro desejava discutir temas sensíveis como depressão, guerra e até se arrisca a falar um pouco sobre a vida da mulher nessa época, personificada na irmã de Padráic, Siobhán (Kerry Condon). Mas praticamente tudo acaba ganhando um tom superficial demais. Nada é exatamente bem aprofundado e alguns assuntos extremamente sensíveis acabam se perdendo em piadas bobas e desnecessárias.

Essa grande colcha de retalhos se propunha a discutir coisas polêmicas e sensíveis, mas o roteiro e a direção não são bons o suficiente para sair do superficial. O final é aberto a interpretação, típico de uma sátira, mas até isso acaba soando um tanto clichê. Se é para elogiar algo e dizer que as quase 2 horas da trama valem a pena pode se destacar as atuações, fotografia e cenários. Mas, mesmo assim, não era algo que valia uma indicação de melhor filme.

Os Banshees de Inisherin está disponível apenas nos cinemas e foi indicado a 8 Oscars incluindo Melhor Filme, duas indicações a Melhor Ator Coadjuvante e melhor Roteiro Original.

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[Maratona Oscar] – Resenha – Nada de Novo no Front

Readaptção de clássico de guerra se vende como um filme anti violência e abusa (vejam só) de cenas violentas.

Nada de Novo no Front adapta o clássico clássico livro homônimo para as telas pela terceira vez. Outras duas produções em 30 e em 79 relembraram os horrores da primeira guerra pelo ponto de vista do front alemão e agora, novamente, a história concorre ao Oscar. Valeu a indicação?

Próximo ao final da 1ª Guerra Mundial o jovem alemão Paul Bäumer engana sua família para se alistar no exército e lutar na guerra, em busca de glória. Três amigos o acompanham, mas eles realmente não fazem a menor ideia do horror que os aguardam.

Edward Berger traz a nova versão da história alemã, vendendo a película como uma trama anti guerra. O roteiro em si até traz ótimos insights sobre a violência, a agressividade e em especial o descaso com as vidas (tanto de soldados, quanto de civis) que ocorrem durante um conflito, ainda mais algo global como a 1ª Guerra. A primeira cena em especial é bem competente em demonstrar o quanto cada soldado era descartável. A trama intercala entre várias cenas de conflitos pelo qual o personagem principal e seus amigos passam, com as negociações longe do front para o fim da Guerra, aumentando ainda mais o efeito da crítica. O cenário e a fotografia auxiliam o efeito: os grandes generais e negociadores estão sempre em lugares suntuosos e cercados de regalias, enquanto as cenas de batalhas e dos soldados sempre remetem a sujeira, lama, sangue e claustrofobia.

Mas a crítica a violência para por aí. As cenas de batalhas abusam de sadismo usando ângulos e cenas que detalham claramente ferimentos e lutas que tornam o roteiro paradoxal. Afinal, como exatamente um filme seria anti guerra, se glorifica a violência desse jeito? O desenvolvimento da trama utiliza bastante o recurso do silêncio reflexivo: cenas lentas e takes longos que deveriam trazer desenvolvimento à trama. Mas talvez tanto pelo roteiro batido e repetitivo, quanto pela falta de talento dos atores principais, acaba tendo o efeito completamente inverso. O filme fica completamente monótono. Suas aproximadamente 2h30m, demoram a passar e no final, a sensação real é de ter assistido apenas mais um filme genérico de guerra.

No final, entre uma cinematografia que até traz algumas novidades, mas com roteiro repetitivo, batido e violento além do necessário, Nada de Novo no Front acabou pegando a vaga do “filme de guerra” do Oscar em 2023. Válido? Eu acredito que não.

O filme está disponível na Netflix e concorre a 9 Oscars, incluindo Melhor filme, Melhor roteiro adaptado e Melhor Filme Internacional.

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Resenha – Lightyear

História clássica do herói perdido no tempo está (vejam só) perdida no tempo.

Toy Story é talvez a franquia mais bem estabelecida da Pixar, desde seu lançamento. Acumulando uma trilogia perfeita, um quarto filme bem do seu mais ou menos e vários curtas geniais, muito já acreditavam que franquia não tinha mais como ser aproveitada. A Pixar então resolveu por isso a prova desenvolvendo um spin off de Buzz Lightyer que representaria o filme que Andy assistiu lá em 1995 e o fez se apaixonar pelo brinquedo. Será que a aposta deu certo?

Estamos no espaço. A equipe do Comando Estelar está viajando a procura de um planeta habitável quando alguns contratempos fazem com que toda a tripulação fique presa num planeta hostil devido a um erro de cálculo de Buzz. Obcecado por corrigir seu erro e tirar toda a tripulação do planeta desconhecido, Lightyear aceita participar da missão para tentar criar um combustível e tirar todos de lá com os recursos do próprio planeta. Mas há um porém: cada vez que o patrulheiro voa e se aproxima da velocidade da luz o tempo avança mais lento para ele. Em sua primeira missão de testes, para ele se passaram minutos e para os que ficaram no planeta, se passaram 4 anos. Será que o patrulheiro conseguirá salvar sua tripulação mesmo assim?

Lightyear até tem uma proposta interessante. Na verdade várias. Inicialmente o planeta onde a tripulação cai é uma ameaça com seus insetos gigantes e um flora que tenta atacar a todos. Mas em seguida existe outro conflito: o do tempo. A la Interestelar, Buzz parte em várias missões em que o tempo passa muito mais rápido para todos que para ele. E ainda surge uma terceira ameaça no segundo ato: Zurg. Sem decidir exatamente qual trama deseja seguir, o roteiro se perde indefinidamente. Obviamente a missão era difícil. Tentar transformar todas as informações que temos de Buzz Lightyear, vistas pelos olhos de uma criança, num filme sério, era bem difícil. Mas dá para dizer que a Pixar falhou, não miseravelmente, mas falhou.

Talvez a maior e mais básica falha é que não é um filme de criança. Ou pelo menos não seria o filme que uma criança dos anos 90 se interessaria. Alias, nem um filme dos anos 90 é. Não tem absolutamente nada na trama, trilha sonora, design, roteiro que remeta a essa época. O roteiro é um hard sci-fy que provavelmente passaria no circuito alternativo e seria esquecido. No máximo se tornaria um cult anos depois, tipo Blade Runner (ok, tô exagerando).

Apesar disso o grande trunfo (e o que faz o filme não ser um desastre) são os personagens de suporte. Lightyear é retratado aqui um tanto babaca (até porque o brinquedo também era assim), mas ao mesmo tempo funciona como contraste à sua companheira de equipe: Alisha. Ela aliás é a personagem que protagoniza o “tão polêmico” beijo lésbico do filme com sua esposa (conservadores, vão lavar uma louça, por favor!).

Alisha representa uma sabedoria que Buzz resolve ignorar e faz um perfeito contraponto a ele que, de tão preso na missão, não vê que a vida está passando. Quando entramos no segundo ato e conhecemos a nova equipe de Lightyear vemos um contraponto feito de forma diferente. Todos são inexperientes e precisam lidar com um Buzz arrogante que os acha desnecessários. Em especial a personagem Izzy que tenta sempre trazê-lo de volta à Terra (ou ao planeta desconhecido?) quando ele está demais. Destaque também para Sox, o gato robô que talvez seja o melhor personagem do filme.

Há ainda a aparição do Zurg que não detalharemos muito, para evitar spoilers mais pesados. Mas vale dizer que também era um dos pontos mais difíceis da adaptação. Se lembram bem, em Toy Story 2, revela-se que Zurg é o pai de Buzz Lightyear (uma clara piada em referência a Star Wars Episódio V: O Império Contra Ataca). Em Lightyear foi preciso adaptar isso, mas foi uma das coisas que menos funcionou (pelo menos na minha opinião).

Enfim, entre tramas perdidas não desenvolvidas, identidade visual genérica e um roteiro sem carisma nenhum, Lightyear consegue ser mais um filme genérico de ficção científica. Um Interestelar de segunda que tenta emular emoções parecidas, mas não consegue chegar nem perto. O filme entrou no catálogo do Disney + ontem. Vale a pena assistir pelo streaming, talvez. Mas meu ingresso de cinema mesmo considero um prejuízo.

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Resenha – Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore (com spoilers)

Harry Potter (ou o Wizarding World como a Warner tenta chamar e o público não compra) talvez seja uma dessas franquias incanceláveis. No momento ainda é difícil precisar se é possível um filme, produção ou livro que se passe nesse universo flope e dê um prejuízo real arrecadando menos do que o que custou originalmente. Mas dá pra afirmar com toda a convicção que se ainda não temos essa certeza não é por falta de tentativas tanto da Warner, quando da autora J. K. Rowling de trazer obras completamente medíocres.

O universo Harry Potter nunca foi a obra mais coesa do mundo. O método de desenvolvimento de roteiro de J.K e a técnica de fazer a trama só surgir quando o protagonista da história olha para ela depõe em muito contra a coesão. A questão é que, enquanto nos ativermos apenas aos 7 livros originais isso nunca será um problema. O problema mesmo começa a partir do momento em que a autora passou a abusar dos retcons (continuidade retroativa que é quando o autor altera fatos que já era estabelecidos na trama) e fica bem claro que isso começou quando ela resolveu apelar para um queerbating afirmando que Dumbledore sempre foi um personagem gay. O abuso dos retcons está totalmente entrelaçado a como Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore e todos o Wizarding World se tornou um desastre.

Mas vamos por partes. Vale primeiro lembrar que no longa anterior, Os Crimes de Grindelwald, o vilão que dá nome a película começou a mostrar suas garras armando um grande espetáculo para seus seguidores em Paris, seguido de um grande ataque a cidade. Revela-se no final, também, que Dumbledore e Grindelwald não podem lutar entre si devido a um pacto de sague que fizeram há muito tempo, além da sub trama do Credence (personagem de Ezra Miller) que é revelado como um irmão perdido do professor de Hogwarts.

Os Segredos de Dumbledore começa basicamente desse ponto e tenta guiar o espectador a entender a trama em três cenas:

1 – Dumbledore e Grindelwald tem em um diálogo que tem como objetivo principal explicar exatamente as regras do pacto de sangue e deixar bem claro que Dumbledore já foi muito apaixonado pelo vilão.

2 – Somos apresentados ao animal fantástico da vez, o Qilin: uma espécie de animal quadrúpede que mais a frente é explicado, tem o poder de enxergar a pureza na alma das pessoas e só faz uma reverência àqueles que são realmente puros. Newt está ajudando uma Qilin a dar luz quando é atacado por Creedence, que mata a mãe e leva o filhote com ele. Entretanto, nasce ainda um segundo filhote e esse permanece sob os cuidados de Newt.

3 – Reúne-se e apresenta-se a equipe Dumbledore, que durante o segundo ato do filme, terá a missão de tentar frustrar os planos de Grindelwald de participar da eleição para o cargo de Chefe Supremo da Confederação Internacional dos Bruxos. Dumbledore separou um presente para cada um deles e, tal qual uma trama de assalto, cada um desses itens ganha importante em dado momento.

Por causa dessas três cenas acaba ficando claro que Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore é aquele filme em que a roteirista tinha bem claro em sua mente como se iniciaria e terminaria, mas não fazia a menor ideia do que deveria acontecer no meio. As cenas 1 e 2 são basicamente o cerne do filme, mas o que se desenvolve ao longo da primeira hora são as consequências da reunião da equipe de Dumbledore. Só que, quando essa parte da trama se conclui, todos os itens apresentados são utilizados e o plano não dá certo, se esquece completamente que esse segundo ato existiu. Há 40 minutos de história que não fazem diferença nenhuma para o final e se fossem sumariamente cortados não fariam falta.

No meio disso, ainda sem arruma tempo para o desenvolvimento da trama de Credence. J. K. Rowling inova e apresenta agora o retcon do retcon. Apresentá-lo em Crimes de Grindelwald como um irmão perdido de Dumbledore já era um grande furo dentro de todo o universo Harry Potter. Em Os Segredos de Dumbledore, o papel de Credence é novamente reiventado: num diálogo digno da revelação do passado de Rey em Episódio 9, falando quase um “veja bem, é isso, mas não é exatamente isso”, Dumbledore revela a Newt que Credence na verdade é um filho perdido de Aberfoth (seu irmão), que nasceu quando eles ainda eram alunos de Hogwarts. E isso ocorre meia hora depois de ter entrado em um combate completamente sem sentido contra o sobrinho no meio da cidade. Credence, aliás não tem exatamente um papel na trama: ele fica para lá e para cá em missões determinadas por Grindelwald e está lá para fazer o filme ter cenas de ação e magia (que aliás são bem poucas).

No terço final do filme, quando os personagens entendem que nada deu certo e que tudo feito até aquele momento fora completamente inútil, todos se reúnem para a grande cena final no cenário localizado no Butão, cenas essas que originalmente seriam no Brasil. As eleições para o cargo de Chefe Suprema da Confederação Internacional dos Bruxos ocorrerão nesse cenário mágico e finalmente lembramos do Qilin apresentado no início da trama. O grande plano de Grindelwald é criar uma versão zumbi controlável do Qilin sequestrado para forçá-lo a fazer uma reverência a ele, fazendo parecer que o animal o escolhera como uma pessoa pura e, consequentemente, perfeita para ser Chefe Supremo da Magia. O novo plano da equipe Dumbledore é usar o outro Qilin que Newt salvou para tentar impedir isso.

Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore claramente poderia ter girado apenas em torno deste terceiro ato e ignorado todas as outras tramas, que no final acabaram não fazendo diferença nenhuma. Se dá para criticar algo nesse filme, sem dúvidas é o roteiro, mais perdido do que nunca.

As crítica não param por aí não: se o roteiro não tem pé nem cabeça, a direção de David Yates está no mesmo patamar. O filme apresenta talvez as piores cenas de ação já feitas em toda a série. Além de serem poucas, completamente sem peso para demonstrar que dois bruxos estão se enfrentando até a morte.

A produção por trás dos atores também foi péssima. Importante citar aqui que tanto Katherine Waterston, quanto Claudia Kim (respectivamente Tina Goldstein e Nagini) que tiveram papeis importantes no filme anterior e foram totalmente esquecidas. Katherine criticou publicamente falas da J. K. Rowling e acabou sendo relegada a aparecer no último minuto do filme. Claudia Kim nem isso, nem se sabe que fim levou o personagem. Houve também uma grande destaque a participação de Maria Fernanda Cândido como Vicência Santos que é a candidata que faz frente a Grindelwald nas eleições do Conselho Bruxo. Mas a atriz tem uma única fala no meio do filme e participa do terceiro ato sem abrir a boca uma única vez. Ela é candidata a eleição mais importante do mundo bruxo, mas não deram a ela nem o direito a um discurso.

Únicas coisas que são possíveis de elogiar são as atuações de Jude Law e Mads Mikkelsen. Jude já havia mostrado no filme anterior que conseguia carregar o papel de Dumbledore sem grandes problemas. Mads substitui muito bem Johnny Depp apresentando um Grindelwald mais frio e calculista e sem grandes overactings (coisa que deixou a versão de Depp extremamente caricata no filme anterior).

No final o saldo é totalmente negativo. O filme é arrastado, não tem um foco sobre o que deseja contar acabando por se apresentar como uma colcha de retalhos ainda pior que o longa anterior.

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Resenha: The Batman

Talvez a franquia mais antiga de super heróis, começada lá em 89 (isso se contarmos apenas os cinemas, pois Adam West já brilhava na TV muito antes disso) com o longa de Tim Burton, o Homem Morcego volta mais uma vez aos cinemas prometendo algo novo. Mas como exatamente uma franquia de mais de 30 anos sobre um herói que já existe a mais de 80 poderia se renovar? Matt Reeves responde a altura com The Batman.

Não há como negar que o Batman já passou pelas mãos mais variadas no cinema ao longo de todos esses anos. Começado numa origem até bem gótica, mas um tanto caricata; passando pela versão totalmente colorida e galhofeira; por um herói mais realista; uma tentativa de reproduzir o tanque de guerra humano dos vídeo games para as telas de cinema; e até por numa versão Lego. O que exatamente ainda faltava vermos? Sim, pessoal, faltava voltarmos às origens do herói e vermos um detetive.

O filme e o roteiro não tentam fingir que essa não é uma história de super heróis, mas Matt Reeves traz uma direção com uma boa pegada de neo noir. Não estranhe se você sentir semelhanças com filmes como Seven ou Zodíaco (clássicos de investigação) porque parece que a ideia era essa mesma. A dinâmica Batman, Gordon e Charada traz muitas semelhanças com David Mills, William Somerset e John Doe.

O Homem Morcego de Robert Pattinson (de O Farol) aqui é apresentado com um vigilante ainda iniciante. No ano 2 de sua jornada, Bruce Wayne ainda é totalmente atormentado pela morte dos pais e, de dia, segue uma vida reclusa. Com poucas aparições públicas e zero importância a fortuna e legado de sua família, Bruce está obcecado por sua jornada como uma sombra da noite que traz medo ao crime. E, mesmo assim, em sua fala inicial, ele admite que não está funcionado, com a criminalidade e a corrupção imperando cada vez mais em Gotham.

Jeffrey Wright (de Westworld e 007 – Sem tempo para morrer) apresenta Gordon como um policial já mais experiente, mas ainda não comissário. Ele é quem concede acesso ao Batman a cenas de crimes (a despeitos dos outros policiais que não confiam no homem morcego) e, aparentemente, é dele a ideia do bat sinal (que nessa versão não fica na delegacia, mas sim num prédio abandonado. A dinâmica de trabalho dos dois funcionou muito bem como um filme de investigação clássico da dupla composta por um veterano e um novato (ares meio Máquina Mortífera). Em alguns momentos eles agem inclusive como good cop e bad cop.

E finalmente chegamos ao Charada de Paul Dano (de 12 anos de Escravidão e Os Suspeitos). Não vemos nele nada muito surtado no estilo da contraparte interpretada por Jim Carrey em Batman Eternamente. Até a cor verde, muito ligada ao personagem, é praticamente esquecida aqui. Na essência, o personagem soou muito como um incel sociopata (redundância?). Seu assassinatos são bem planejados, ligados todos por charadas endereçadas principalmente ao Batman (aliás parabéns à galera da tradução que conseguiu localizar as charadas para o português) levando você a duvidar exatamente sobre a intenções do vilão em vários momentos. Ele parece ser um mestre dos segredos e ter controle de tudo, mas em algumas vezes perde completamente o controle, coisa que faz você sentir que os protagonistas estão realmente em perigo.

O elenco de suporte não fica para trás. Podemos destacar principalmente Zoe Kravitz (Selina Kyle/Mulher Gato), Colin Farell (Pinguim), John Turturro (Camine Falconi) e Andi Serkis (Alfred). Todos com ótimas atuações e cada um deles com sua trama bem desenvolvida. Se tem algo que The Batman conseguiu fazer foi apresentar bem todos os personagens, manter a linha de pensamento do roteiro e não ficar chato. Destaque, aliás, para a química do Batman com a Mulher Gato. Zoe e Robert entregaram algumas das cenas mais perfeitas já feitas com a dupla.

A trama tem grande foco nesses sete personagens principalmente entrelaçando a corrupção de Gothan (que remonta aos tempos da infância de Bruce e à morte de seus pais) com os mistérios e assassinatos do Charada. O fio de investigação comanda o roteiro e através dele somos levados a várias reviravoltas surpreendentes e ótimas cenas de ação (a apresentação do bat móvel é simplesmente perfeita). Fora isso, Matt Reeves conseguiu também atualizar a trama de um super herói de 80 anos discutindo diversas problemáticas sociais como concentração de renda, radicalização, liberação de armas e como o próprio Batman é parte do problema de Gotham. Tudo isso num filme de quase 3 horas, que garantimos, não fica repetitivo.

É preciso também destacar a parte técnica da produção. Finalmente temos um filme do Batman que, apesar de usar a escuridão em sua fotografia, é possível enxergar durante as cenas. A escuridão serve ao roteiro e não está lá apenas para disfarçar efeitos visuais ruins (como tem acontecido bastante nos últimos filmes de heróis). Muito da ação foi produzido com efeitos práticos, então as explosões são bem reais. A trilha sonora do Michael Giacchino (que também esteve em, veja só, Homem Aranha: Sem Volta para Casa) é épica. Boa parte da emoção vem através dela.

No geral é um filme que surpreende por conseguir renovar um herói que já foi representado por 6 atores diferentes trazendo algo novo de onde parecia não ser possível inovar (vide os filmes do Ben Affleck). Se você puder, assista num cinema ou no lugar em que for possível ouvir o som da melhor forma possível. Vale muito a pena.

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