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[Maratona Oscar] – Resenha – Assassinos da Lua das Flores

Scorcese desenvolve um western as avessas pra provar que tramas de máfia cabem em qualquer lugar!

No início do século 20 Oklahoma é um território indígena onde a nação Osage prospera através da descoberta de diversos pontos de extração de petróleo. Insatisfeitos com o domínio e enriquecimento do povo originário, rancheiros da região cobiçam o controle para si e dão origem a uma série de assassinatos de vários Osage donos de terras. A investigação no entanto, não será simples.

Assassinos da Lua das Flores é um relato real baseado numa história protagonizada por um povo originário dos EUA. No entanto, Scorcese entende muito bem seu lugar nessa trama e sabe que jamais seria completamente competente em narrar essa história do ponto vida dos oprimidos e opta por deixar as câmera assistirem a situação toda do ponto de vista de Ernest Burkhart, sobrinho de um dos rancheiros da área (Robert de Niro) que retorna da guerra e se casa com Molly (Lilly Gladstone) uma das donas de terras petrolíferas.

Ernest está no meio dessa guerra. Ele claramente nutre algum amor por sua esposa, mas também é alguém que já muito desumanizado na guerra e ainda tem grande ligação com seu tio. A medida que os assassinatos vão crescendo, Ernest vai sendo cada vez mais envolvido na guerra e a atuação de Leonardo Di Caprio é bem afinada com o conflito que o personagem vive.

Scorcese está mais afinado do que nunca. O filme tem cinematografia clássica de um western (o cenário ajuda bastante, aliás). Mas o diretor não abandona o clássico que o levou ao sucesso e deixa aqui e ali pitadas de máfia. O clima poeirento acaba criando um western bem disruptivo que foge dos clássico e pode se tornar, (por que não?) um novo clássico. A grande questão aqui é o tempo: a trama instigante não é suficiente para impedir que as quase 3 horas e meia de filme não se tornem cansativas em nenhum momento.

No final, Assassinos da Lua das Flores mostra que o Scorcese segue mais afinado que nunca na direção, mas a edição mesmo deixa um pouco a desejar.

Assassinos da Lua das Flores está disponível no Apple TV + e foi indicado a 9 Oscars incluindo Melhor Filme, Melhor Atriz, Melhor Direção e Melhor Ator Coadjuvante.

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[Maratona Oscar – Resenha – Barbie

Greta Gerwig abandona o cult de Lady Bird e Adoráveis Mulheres para produzir uma completa galhofa… cult. E justamente por isso o filme é tão bom.

É até interessante lembrar o Oscar de 2021 quando tanto Chloé Zhao, quanto Greta Gerwig (a primeira ganhadora do Oscar de Melhor filme e a segunda indicada a diversos prêmios por Adoráveis Mulheres e A Ilha de Bergman) foram confirmadas em duas grandes produções mais ligadas a cultura pop: Eternos e Barbie. A primeira não foi tão bem sucedida em aliar direção diferenciada com um produto 100% cultura pop. Já a segunda foi o total inverso: Barbie foi um sucesso de público, crítica e ainda deixou a marca dela bem clara para que todos vissem.

Possivelmente o filme mais surtado do Oscar 2024 conseguiu juntar uma direção afinadíssima de Greta Gerwig com um elenco e trilha sonoras super estrelados para abordar um dos brinquedos mais conhecidos da história da humanidade. E ainda que essa descrição pareça apenas um grande comercial da Mattel, a diretor foi totalmente bem sucedida em produzir não só um filme de Oscar e também não só um filme pop.

A pacata Barbieland, um lugar onde todas as Barbies e Kens (e todos os personagens adjacentes) vivem plenamente e em paz tem sua calmaria abalada de repente e a Barbie mais Barbie de todas (Margot Robbie) vai precisar enfrentar os perigos do mundo real para tentar salvar seu mundo e entender tudo que está acontecendo. A sinopse parece até um clássico dos anos 80 de personagens de alguma franquia indo parar no mundo real e Greta até usa bem alguns clichês dessa ideia.

Mas quando somos apresentados às personagens do mundo real Gloria e Sasha (America Ferrera e Ariana Greenblatt) começamos a entender que as metáforas e o roteiro pretendem ir bem mais longe que isso. Na prática Barbie usa de elementos lúdicos de um brinquedos para discutir questões sensíveis da sociedade em especial as mulheres e feminismo. A Barbie de Margot Robbie que se vê como um grupo majoritário na Barbieland, de repente passa a ser uma minoria feminina do mundo real. O mesmo choque passa pelo Ken de Ryan Gosling vivendo o processo inverso.

É impossível separar Barbie de todo o universo infantil que está aliado diretamente a ela e a direção foi muito feliz em não tentar fazer isso. Ao mesmo tempo Greta guarda muito bem todas as suas críticas a sociedade para usar nos momentos mais oportunos possível. É essa mistura que faz o filme ser tão bom e tão diferente ao mesmo tempo.

Barbie está disponível no Max e nas plataformas de aluguel online e foi indicado a 6 Oscars incluindo Melhor Filme, Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Atriz Coadjuvante e Melhor Roteiro adaptado.

Quer saber mais sobre a nossa opinião sobre o filme? Escute nosso podcast:

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[Maratona Oscar] – Resenha – Maestro

Sobre uma figura não tão cultuada da cultura pop, Maestro traz uma biografia bem musical de Leonard Bernstein.

Leonard Bernstein não é uma figura tão conhecida nos dias atuais, mas a sua época carregou um certo nível de polêmica e controvérsia. Bissexual, o maestro teve um relacionamento de mais de 30 anos com a atriz chilena Felicia Montealegre, ao mesmo tempo em que mantinha casos com diversos homens. Incomum para os conservadores ano 60/70, os affairs de Leonard era conhecidos por sua esposa e funcionavam como um acordo do casal.

Maestro procura lançar luz sobre esse relacionamento ao mesmo tempo que usa música, teatro e cinema como pontes entre os vários momentos da vida de Leonard e Felícia. Desde a primeira grande apresentação do maestro, quando ainda apenas um assistente que acabou tendo a chance de substituir a atração principal da noite, passando pela subida na carreira de atriz de Montealegre, pelos noivados até finalmente chegarem seus três filhos e como a complicada relação afetou a vida de todos.

Em termos de biografia, Maestro é bem mais competente que Oppenheimer em contar a vida de um personagem histórico e aliar sua temática (no caso aqui a música) a cinematografia da trama. A primeira hora de filme é em preto e branco representando bem a época em tudo está acontecendo. Várias transições de cena são feitas em plano sequência. O apartamento do jovem Leonard vira rapidamente o palco de sua primeira grande apresentação. O jantar bucólico de campo do casal, de repente leva ambos para dentro de um teatro para que o maestro apresente à sua amada sua novas criações. Isso traz uma dinâmica bem interessante ao desenvolvimento dos personagens.

A grande falha aqui talvez seja a forma como a direção de Bradley Cooper leva os affairs de Leonard. Vários homens passam pela vida dele ao longo das 2h 9m do longa. Mas de fato nenhum deles é bem aprofundado. Alguns até ganham alguma importância, geram conflitos, mas fica sempre a sensação de são apenas um revés no casamento, sendo que na realidade Bernstein teve verdadeira relações amorosas com vários desses amantes.

Vale destaque para a trilha sonora, pautada em grandes clássicos orquestrados e para a maquiagem. Bradley Cooper e Carey Mulligan vivem por volta de 30 anos da vida do casal principal da trama e a maquiagem e o figurino demonstraram mais que perfeitamente a passagem de tempo. A parte mais triste que vem ao final com o câncer de Felícia sacramenta Carey como uma das melhores atuações desse ano.

Maestro não é um dos favoritos à estatueta de melhor filme, mas cumpre muito melhor a missão de ser uma biografia que a outra que também está indicada ao prêmio.

Maestro está disponível na Netflix e foi indicado a 7 Oscars incluindo Melhor Filme, Melhor Ator, Melhor Atriz e Melhor Roteiros original.

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[Maratona Oscar] – Resenha – Oppenheimer

Christopher Nolan volta à direção para uma biografia mais preocupada em explicar física quântica que em contar uma história.

Não há como dizer que a humanidade não alimente um certo fascínio pela guerra. Não a toa tantos filmes de guerra são desenvolvidos em produções grandiosas e faturam tantos prêmios. Oppenheimer chega como mais uma obra focada em um personagem de grande destaque da 2ª Guerra e da Guerra Fria. A dúvida principal é se o protagonista de fato é a figura histórica que dá o título ou a própria bomba atômica.

Robert Oppenheimer é uma dessas clássicas figuras controversas de guerra. Idealizador da bomba atômica, isso já sabemos afinal é o mote principal da trama. Mas também é dado grande destaque a sua eterna fome por conhecimento e o desejo de ter sua genialidade reconhecida. Sua relação de amor e ódio com a política e o ódio e amor pela filosofia. É de fato um personagem interessante para uma biografia, não fosse o fato de Christopher Nolan desenvolver uma bio pic da forma mais estranha possível.

Outro fato que ninguém pode negar é como Nolan é expositivo. As partes mais maçantes de Interestelar passam sempre por explicações exaustivas dos cientistas sobre conceitos as vezes até muito batidos de hollywood. Em Oppenheimer ele elevou isso a uma nova potência, com diálogo extensos sobre física nuclear num nível que o espectador começa a contestar se o verdadeiro protagonista não é a bomba.

Visualmente não há o que contestar, o filme é lindo. Os takes apresentando aos poucos a grande explosão que virá ao final são no mesmo nível do buraco negro Gargantua em Insterestelar. De atuações também estamos muito bem servidos: Cillian Murphy no papel principal, apoiado por Robert Downey Jr., Emily Blunt e Florence Pugh mostraram uma baita sintonia, entregando ótimas cenas.

O grande problema é como o roteiro costura mal tudo isso. Seja com diálogos por vezes complicadíssimos de entender, seja por uma necessidade de ser chapa branca e não chegar nem perto de abordar a desumanidade que foi o uso da bomba em si, Oppenheimer termina como mais um exemplar de guerra que tentar muito, mas acaba sendo só mais um.

Oppenheimer está disponível nas plataformas de compra e aluguel online e foi indicado a 13 Oscars incluindo Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Fotografia.

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[Maratona Oscar] – Resenha – Zona de Interesse

O terror do holocausto se mescla a belíssimos takes de uma casa de campo ao lado de Auschwitz para mostrar os maiores monstros da humanidade são, sim, pessoas comuns.

Um casal feliz vive dramas diários e cotidianos ao lado de seus filhos numa bela casa, com um belo jardim e bem próximo a um rio. Expectativas sobre o trabalho do marido, sobre como a esposa cuida do lar onde moram e se dedicam ao crescimento das crianças pareceria a descrição de qualquer drama bucólico. Mas não, não é esse filme.

O pai da família é Rudolf Höss (Christian Friedel), oficial da Alemanha nazista e comandante do campo de Auschwitz que implementou diversos métodos de tortura e extermínio. Sua esposa Hedwig (Sandra Hüller) vive um drama familiar comum ao mesmo tempo em que passa os dias ouvindo gritos de pessoas torturadas. A casa que parece um paraíso primaveril é um anexo do campo de concentração.

Falar da agressividade da trama acaba sendo uma coisa óbvia. O filme é lindo. Jonathan Glazer utiliza muito a câmera parada para trazer muita realidade ao takes da família feliz tomando banho de rio ou das crianças brincando na piscina, ou ainda de Hedwig recebendo amigas para um café. Mas, ao mesmo tempio, Glazer nunca deixa você esquecer a brutalidade do cenário que está ali a volta. Toda vez que você pensa em ficar confortável apreciando a vista ou a fotografia você ouvirá um grito, ou verá a fumaça saindo das chaminés do campo de concentração, ou será levado a conhecer mais o “trabalho” de Rudolf.

É um filme dificílimo de vencer e chegar ao final simplesmente por como escancara a brutalidade desse período histórico e do personagem. Rudolf é um pai exemplar com os filhos, marido dedicado e justamente funciona a intenção de mostrar que o pior da humanidade não vem de pessoas ditas como “monstros”, mas de seres comuns. Ver um pai contando histórias para os filhos dormirem e logo em seguida ver o mesmo homem estudando projetos de uma câmara que mata mais pessoas de uma vez deixa qualquer humano normal no mínimo consternado.

Fica o alerta: Zona de Interesse é possivelmente o filme mais agressivo do Oscar 2024 e, justamente por isso e nos tempos atuais onde se banaliza tanto o nazismo, se torna uma trama tão necessária.

Zona de Interesse está disponível nos cinemas e foi indicado a 5 Óscars incluindo Melhor Filme, Melhor Filme Internacional, Melhor Diretor e Melhor Roteiro Adaptado.

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[Maratona Oscar] – Resenha – Vidas Passadas

Drama coreano da A24 aposta nas relações humanas para mostrar que a realidade não é um filme. Será que a A24 garante mais uma estatueta?

Nora e Hae Sung, amigos de infância que foram separados por causa de uma mudança vão se reencontrar algumas vezes ao longo dos anos e cada um desses encontros vai marcá-los para sempre ao entenderem os pesos de suas escolhas e o peso delas no amor e seus destinos.

Vidas Passadas é aquele filme para você se reconectar a humanidade. Sem grandes cenários ou efeitos, sua genialidade vem acima de tudo da simplicidade. Nora e Hae Sung são um casal que se apaixonou ainda na infância, mas que passaram por uma separação após a família de Nora partir da Coreia para os EUA. Já adultos, eles se reencontram algumas vezes percebendo que o amor infantil ainda existe. Entretanto cada um tem sua própria vida e dilemas e o sentimento agora é confrontado por um problema até mais cruel: a vida real e o peso dos sonhos.

Não se engane: o filme tem pouquíssimos cenários, a trama gira em torno de basicamente três personagens e justamente isso é o mais genial pois o clima criado por Celine Song é justamente o que faz tudo se encaixar. Enquanto o tempo passa, as várias cenas reflexivas passam a sensação de que nada está acontecendo e você só está testemunhando as pessoas simplesmente existindo. Mas, quando se unem fotografia e trilha sonora afinadas ao extremo e ângulos de câmera muito bem aplicados, você organicamente percebe que tudo está acontecendo bem na sua frente.

Os diálogos também contribuem para a experiência. Extremamente afiados a ponto de em dado momento o personagem de John Magaro verbalizar exatamente algo que todo mundo estava pensando. Greta Lee e Teo Yoo (Nora e Hae Sung) também mostraram um afinamento muito bom trazendo ainda mais profundidade ao drama, mesmo em cenas em que eles estão apenas em comunicação via skype.

Do ponto de vista dramático Vidas Passadas não é nem de longe tão pesado quanto Parasita (2019), mas tem o que tudo o que é preciso pra repetir a dobradinha Melhor Filme/Melhor Filme Internacional.

Vidas Passadas está disponível nos cinemas e foi indicado a 2 Óscars incluindo Melhor Filme e Melhor Filme Internacional.

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[Maratona Oscar] – Resenha – Pobres Criaturas

Pobres Criaturas usa tanto roteiro, quanto visual surtados para contar através de uma época vitoriana questões muito atuais. O filme tem totalmente a cara do Oscar, em especial dos últimos anos. Vale uma estatueta?

Trazida de volta a vida pelo Dr. Godwin Baxter, a jovem Bella Baxter deseja descobrir os prazeres da vida e do mundo. Livre de preconceitos e amarras, ela vai descobrir em uma longa viagem com um advogado metido a sedutor como a humanidade cria diversas amarras e culpas sobre o prazer e como uma mulher livre assusta os homens.

Pobres Criaturas é sem dúvidas uma loucura visual que brinda o espectador com boas atuações. Emma Stone realmente se destaca dando vida a jovem Bella Baxter: uma aparente mulher adulta comum, mas que na realidade é o cérebro de uma criança transplantado para o corpo de sua própria mãe suicida. A meticulosa experiência desenvolvida pela Dr. Godwin Baxter (Willen Dafoe) dá origem a uma nova pessoa que precisa iniciar seu aprendizado sobre o mundo do zero, mas de dentro de um corpo totalmente desenvolvido. Godwin tenta mantê-la escondida até a aparição de Duncan Wedderburn (Mark Ruffalo), um advogado canastrão que a seduz para levá-la a uma viagem pelo mundo.

Mesmo com boas atuações, é um pouco difícil vencer as 2h21min do longa. A ideia aparentemente revolucionária (e um tanto polêmica) abre margem para discutir diversas mazelas do nosso mundo atual e, á primeira vista parece ser instigadora. A viagem de Bella junta um pacote que a Academia adora indicar para premiações: visual parnasiano hiper colorido, diálogos extensos e filosóficos, tentativas de uma cinematografia diferenciada e uma discussão social a primeira vista bem profunda. Junta-se a uma carência de filmes que se arrisquem em em visuais inusitados e figurinos mais bufantes e temos o primeiros filme da nossa maratona do Oscar.

Mas em alguns momentos todas esses recursos acabam sendo mal utilizados de alguma forma. Seja em diálogos longos demais que parecem não chegar a lugar nenhum, seja por uma pretensa crítica feminista que tenta dar a entender que liberdade sexual é o caminho para tudo, seja ainda numa trilha sonora até bem inspirada, mas em vários momentos repetitiva quase ao nível de uma novela mexicana a experiência do filme por vezes acaba trazendo um certo cansaço. As lentes trocadas meio a esmo na tentativa de apresentar sentimentos dos personagens acaba não ajudando e em dados momentos causando apenas tontura nos espectadores mais sensíveis.

Yorgos Lanthimos não é exatamente novato quando se utiliza do diferente ou do estranho e O Lagosta (2015) é uma prova disso. Mas aqui a sensação real é quase de uma overdose: absolutamente tudo que poderia ser usado, foi usado e poderia ser genial, mas no conjunto da obra só ficou exagerado mesmo. Por vezes me lembrou o pretenciosíssimo Mãe! (2017) que traz uma história cheia de metáforas, mas uma superfície que simplesmente não faz sentido nenhum.

Que Pobre Criaturas tem ótimas atuações e ideias, não há o que negar, mas que por um certo exagero somado a uma certa pretensão em ser uma crítica social foda acaba ficando cansativo e meio brega.

Pobres Criaturas está disponível nos cinemas e foi indicado a 11 Óscars incluindo Melhor Filme, Melhor Atriz, Melhor Diretor e Melhor Roteiro Adaptado.

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[Maratona Oscar] – Resenha – Os Fabelmans

Spielberg volta novamente às telas para contar uma história mais que pessoal. Os Fabelmans é praticamente a autobiografia do renomado diretor com algumas licenças poéticas que, ao mesmo tempo, conversa muito sobre as origens do cinema.

Apaixonado por filmes desde a primeira vez em que foi ao cinema, o jovem Sammy Fabelman decide produzir seus próprios em casa e com amigos. Mas tomar a grande decisão de dedicar a sua vida à sétima arte não será simples, quando confrontada por seus familiares e por vários reveses.

Os Fabelmans é a declaração de amor de Spielberg ao cinema, ao mesmo tempo que deixa bem claro tudo que é preciso sacrificar para correr atrás do universo da sétima arte. Somando uma autobiografia com uma grande metalinguagem sobre as origens do cinema americano, o filme emociona e traz ao espectador algumas reflexões profundas sobre a difícil vida por trás da produção artística.

A trama é desenvolvida seguindo a família que dá nome a história, com foco no único filho homem, Sammy, que se apaixona pelo cinema depois que seus pais o levam para assistir a O Maior Espetáculo da Terra. A paixão, no entanto se torna um conflito entre o pai e a mãe. Burt (Paul Dano) sempre é a voz que tenta impedir o filho de voar muito alto e quer que ele se dedique a outras coisas. Mitzi (Michelle Williams) dá força a se dedicar à arte e também é quem o presenteia com sua primeira câmera. Esse conflito aliás é o que acaba conduzindo o roteiro em alguns momentos.

Através dos anos e do crescimento de Sammy, a obra discute sobre como o diretor e o artista por trás de cada produção consegue enxergar coisas que ninguém mais vê. Toda a família, amigos e até inimigos (em dado momento o garoto passa a sofrer bullying na escola) são impactados de alguma forma pelo olhar artístico e a produção que ele desenvolve. Mas há também o revés e a análise sobre como um artista pode acabar as vezes tão apaixonado pela sua obra que esquece de seus afetos e amores.

Spielberg consegue muito bem desenvolver duas tramas em paralelo, entre a família Fabelman e como o cinema foi evoluindo a longo dos anos em que a história se passa. Talvez o único problema do filme envolva uma certa lentidão no terceiro ato, justamente quando Sammy acaba se decepcionado e para de produzir seus filmes. O filme tem 2h e 31 min que talvez sejam demais. Talvez uma encurtada em alguns detalhes pudesse dinamizar a obra. Em especial porque, como vários acontecimentos são tirados da vida do próprio Spielberg, o roteiro ganhou uma certa aleatoriedade (a vida é aleatória, um roteiro de filme em geral não deve ser) que causa certa estranheza em alguns trechos.

Mas, sem dúvida, é um filme que todo o amante do cinema deve consumir. Os Fabelmans é a declaração de amor e ódio de Spielberg à sétima arte.

Os Fabelmans não está disponível no catálogo de nenhum streaming, mas pode ser alugado nas lojas on demand. O filme foi indicado a 7 Oscars incluindo Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor atriz.

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[Maratona Oscar] – Resenha – Tar

Dá pra classificar Tár como uma biografia fake. Você pode até não acreditar, mas Lydia Tár não existe. E depois de ver o filme você vai continuar duvidando disso.

Tár marca a volta de Todd Field à direção depois de 16 anos e desenvolve roteiro sobre uma figura polêmica e cancelamento. Vale Óscar?

Lydia Tar é uma “maestro” (como ela mesma gosta de ser chamada) que atingiu o ápice. Ganhou o EGOT (quando uma mesma pessoa ganha um Emmy, um Grammy, um Oscar e um Tony Awards), se tornou titular da Filarmômica de Berlim e está no auge de sua carreira como musicista. O filme já se inicia com uma longa entrevista com Tár onde ela deixa claro que se considera intocável. Ela talvez fosse um personagem perfeito para estar no cruzeiro de Triângulo da Tristeza.

Tár estabelece discussões profundas sobre gênero, cultura de cancelamento e se dá para separar o autor da obra. O roteiro se desenvolve como um grande quebra cabeça, as vezes demorando para captura você. A primeira hora de filme se passa basicamente em três únicas e longa cenas. A abertura com a entrevista a maestro norteia boa parte do que vai acontecer nos atos seguintes. O início é bem lento, mas em dado momento a trama passa a ser frenética.

Lydia é quase uma vilã. Uma personagem que por se considerar o topo de uma categoria tornou-se cruel, intimidadora e ditatorial. Na primeira hora de filme o espectador captura alguns sinais dessa crueldade, como no momento em que ela chega a ameaçar uma criança que está praticando bullying com a sua filha ou em como ela trata seus alunos e os músicos com quem trabalhar em orquestra.

Todd Field trabalha o roteiro muito nos diálogos. É necessário prestar atenção em detalhes para entender coisas que acontecerão mais a frente. As cenas longas e o diálogos até muito técnicos sobre música compõem toda a aura de que você está perdendo algo e está de fato. Mas você só vai perceber isso no momento certo.

O grande problema começa a ocorrer quando a trama se direciona ao final. O filme que até aquele momento parece ser lento na medida certa para estabelecer detalhes sobre aquela pessoa cai em alguns clichês desnecessários de suspense. A tentativa de sátira talvez seja o maior ponto fraco do roteiro: quando acontece é óbvia. Fica parecendo quase que o diretor deu uma piscadela e apontou para onde o espectador deveria olhar.

O maior mérito de Tár talvez tenha sido fazer você acreditar na personagem. Ela não existe, mas é muito real e você provavelmente conhece alguém assim. É preciso também fazer um destaque à interpretação de Cate Blanchett. Nos momentos em que o roteiro falha, ela sem dúvidas carrega a trama e brilha!

Tár está disponível nos cinemas e foi indicado a 6 Óscars incluindo Melhor Filme, Melhor Atriz, Melhor Diretor e Melhor Roteiro

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[Maratona Oscar] – Resenha – Triângulo da Tristeza

Zoar ricos está na moda e Triângulo da Tristeza faz isso muito bem. O problema mesmo é terminar a história.

Triângulo da Tristeza vem como a grande sátira da categoria Melhor Filme do Oscar 2023. Com um elenco afinado e boa motivações (ou falta delas) o filme consegue somar clichês e inovações. Mas vale um estatueta?

Num iate de luxo figuras pitorescas (desde um bilionário russo anti comunista, até um casal de modelos em crise emocional) vão se reunir e vivenciar situações reais e situações absurdas. Não há exatamente um começo, não há exatamente um fim. O que importa é perceber o quão vazias são essas pessoas, enquanto você também testemunha a vida das pessoas que trabalham para elas.

Triângulo da Tristeza é aquele filme que não tem exatamente um protagonista. O casal inicial Carl (Harris Dickinson) e Yaya (Charlbi Dean) tomam a maior parte do tempo de tela, mas é difícil chamá-los de principais. O primeiro ato aliás é basicamente apenas com eles, passando pelo candidatura de Carl a uma vaga como modelo e por um jantar com ambos em que passamos 20 minutos ouvindo uma discussão completamente sem propósito sobrem quem deve pagar a conta.

Quando finalmente chegamos ao cruzeiro e somos apresentados às figuras mais malucas o possível, como um casal de pacatos senhores ingleses que são donos de granadas ou um ricaço russo que faz questão de deixar claro que é anti comunista a todo momento, o roteiro vai tomando forma e mostrando que o foco aqui é satirizar grande figuras de alta classe. O roteiro é até um tanto didático em apresentar cada uma delas, mas no final não há muito o que esperar deles.

A ideia não é novidade como é possível ver em produções como White Lótus e O menu, mas a originalidade de Triângulo da Tristeza está, além do roteiro, na cinematografia. Ao longo do segundo ato no iate as situações mais simples possíveis são mescladas a situações absurdas da forma natural. Isso eu credito principalmente à fotografia e aos ângulos que parecem quase um documentário. Aqueles personagens são completamente perdidos e parece que simplesmente a câmera foi ligada e os gravou. Mesmo nos momentos mais surtados a sensação de realidade permanece.

Toda a equipe que trabalha no iate também é um show a parte. Eles são basicamente o testemunho do espectador: as pessoas normais que estão a mercê daquele bandos de malucos. Eles trazem a sobriedade à trama e a lembrança de que, sim, você não está maluco e aquele milionários são basicamente os vilões da história.

O filme derrapa um pouco no final. Quando o iate naufraga (não é spoiler, está no trailer) começa a parte mais surreal de fato da história e o filme poderia ter brilhado. Mas o final mesmo é um tanto covarde em não dar o desfecho ao espectador. A partir dos acontecimentos você mesmo decide qual o seu final, mas não há subsídio para se ter certeza do que aconteceu.

Acima de tudo, Triângulo da Tristeza mostra claramente que dinheiro não necessariamente garante bom senso ou bom gosto. Vale uma estatueta? Talvez, mas vai precisar brigar com outros que tem o roteiro bem melhor solucionados.

Triângulo da Tristeza está disponível nos cinemas e no Amazon Prime Video. O Longa foi indicado a a 3 Oscars incluindo Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Roteiro original.

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